Brasil, sempre um país do futuro
Sem liderança interna no governo, na classe política, no Congresso, no meio empresarial, torna-se difícil definir um rumo para o país, com uma clara visão estratégica que permita a execução de políticas para concretizar as potencialidades existentes
Desde o início de sua história, o Brasil foi descrito como um país de grande potencial. Pero Vaz de Caminha, que viajou com Pedro Álvares Cabral, e, em 1500, aportou no litoral da Bahia, já dizia que na terra recém-descoberta “em se plantando tudo dá”, em outras palavras, o potencial era ilimitado. Viajantes estrangeiros nos séculos XVI, XVII e XVIII, até os relatos de Langsddorff, já no século XIX, descreviam, sem medir palavras, o potencial do Brasil, com base na diversidade da terra brasiliense. No começo do século XX, o escritor austríaco Stefan Zweig, que morou e se suicidou em Petrópolis, cunhou a famosa frase que resume essa visão: Brasil, um país do futuro.
Em qualquer área em que o país é analisado, a primeira constatação é a de que o Brasil tem um grande potencial. Depois de cada crise econômica — para ficar nas mais recentes, nos planos dos diversos governos –, quando a situação começava a se estabilizar, inevitavelmente se proclamava o grande potencial para investimentos na economia e na bolsa de valores. Depois de cada crise política — para ficar nas mais recentes, os dois últimos impeachments –, previa-se um período de estabilidade política, que abria oportunidades para o aproveitamento das potencialidades do país.
A eleição de um operário, líder sindical, no início deste século, foi saudada como uma oportunidade para que os problemas sociais brasileiros fossem atacados de frente, e um grande potencial surgia para o Brasil com a redução da pobreza e da desigualdade tanto regional como social. Com a eleição de 2022, criou-se a expectativa de que o potencial do Brasil, depois de um período de isolamento, poderia ser aproveitado com as novas políticas que inseririam o país na economia e na política globais. O Brasil voltou e a voz do país seria novamente ouvida no contexto internacional.
O potencial do soft power brasileiro (cultura, música) é sempre lembrado. Com a política de meio ambiente e mudança de clima, poderíamos afinal aproveitar o grande potencial do Brasil na Amazônia, na transição energética, no hidrogênio verde, no mercado de carbono e, em muitas outras áreas, como nos minérios críticos e estratégicos, com forte atração de investimento externo. Com a prioridade para a América do Sul, o Brasil poderia explorar o potencial de um grande mercado no nosso entorno geográfico e liderar as ações para a integração regional, com relevantes oportunidades para o setor privado.
Poderiam ser lembrados muitos outros exemplos em que são ressaltadas as potencialidades do Brasil que, aproveitadas, poderiam tirar o país do baixo crescimento e das desigualdades internas. A identificação das potencialidades e o diagnóstico de como concretizá-las são fáceis de fazer, e vemos isso tratado todos os dias nos diferentes meios de comunicação e nos cada vez mais frequentes encontros no exterior em que autoridades do Executivo, do Legislativo e do Judiciário discutem o Brasil para uma plateia repleta de brasileiros.
Até quando vamos continuar a falar das potencialidades que, por nunca serem aproveitadas, mantêm a percepção de que o Brasil continuará a ser sempre o país do futuro? Sem liderança interna no governo, na classe política, no Congresso, no meio empresarial, torna-se difícil definir um rumo para o país, com uma clara visão estratégica que permita a execução de políticas para concretizar as potencialidades existentes.
As rápidas transformações geopolíticas e econômicas globais terão impacto cada vez mais forte em todos os países. Não se vê como o Brasil vai reagir e responder a esses novos desafios. O mundo não vai esperar o Brasil definir políticas para tornar efetivas suas potencialidades.
Presidente e fundador do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (IRICE). É presidente do Conselho Superior de Comércio Exterior da FIESP, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Trigo (Abitrigo), presidente do Centro de Defesa e Segurança Nacional (Cedesen) e fundador da Revista Interesse Nacional. Foi embaixador do Brasil em Londres (1994–99) e em Washington (1999–04). É autor de Dissenso de Washington (Agir), Panorama Visto de Londres (Aduaneiras), América Latina em Perspectiva (Aduaneiras) e O Brasil voltou? (Pioneira), entre outros.
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