25 julho 2023

Mario Mugnaini Jr: O Brasil e a África

Relação do país com o continente é uma das mais fortes do ponto de vista histórico, cultural e comercial. Para especialista, é preciso avaliar oportunidades e desenvolver plano para futuros empreendimentos conjuntos brasileiros na África

Relação do país com o continente é uma das mais fortes do ponto de vista histórico, cultural e comercial. Para especialista, é preciso avaliar oportunidades e desenvolver plano para futuros empreendimentos conjuntos brasileiros na África

As ligações entre o Brasil e a África (Foto: IFHC)

Por Mario Mugnaini Jr*

Sem a menor dúvida o Brasil é um dos países de maior ligação, seja histórica, seja de intercâmbio cultural e comercial, com os países da África Ocidental.

A maioria dos países Andinos, da América Central, do Caribe e os Estados Unidos receberam a mão de obra escrava oriunda da África no período de 1700 a 1890. Essa imigração foi a base dos desenvolvimentos agrícolas, mas sobretudo a contribuição cultural da música, dança e costumes gastronômicos.

‘As relações do Brasil junto aos países africanos se desenvolveram com grande intensidade nos últimos 20 anos’

As relações diplomáticas, comerciais e de cooperação por parte do Brasil junto aos países africanos se desenvolveram com grande intensidade nos últimos 20 anos através da exportação dos serviços, consultoria, engenharia de estradas, barragens de hidroelétricas e obras de saneamento.

Neste artigo pretendo desenvolver a noção da cooperação como instrumento de futuras possibilidades de realização de empreendimentos conjuntos na região.

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Quando nos referimos à África, os grupos de países formam blocos que exigem seletividade para sua melhor compreensão.

Com o Magreb, constituído por Argélia, Marrocos e Tunísia e, em uma abrangência maior, incluindo a Líbia e a Mauritânia, o Brasil mantém um relacionamento comercial razoável, constituído na exportação de produtos agrícolas industrializados bem como de bens industriais, e importação concentrada nos insumos para a produção de fertilizantes.

Dentre os países de antiga colonização inglesa, a Nigéria é grande produtora de petróleo e mantém um comércio importante na importação de bens duráveis e de capital e produtos agrícolas industrializados. E exporta petróleo ao Brasil, pois trata-se de tipo bem adaptado às refinarias brasileiras, e fundamentalmente cria as condições para as nossas exportações.

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A África do Sul, com um desenvolvimento fortemente concentrado na mineração e metalurgia, detentora de uma indústria automobilística e de autopeças, mantém um comércio diversificado com o Brasil e uma posição política especial por fazer parte das organizações BRICS e IBAS.

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A cooperação brasileira com estes países poderia ser concentrada nas experiências de produção de etanol, mistura de até 15% na gasolina, e produção de hidrogênio verde, contando com as experiências da Petrobras como grande operadora da mistura de etanol e gasolina. O Senai através de sua capacitação e formação de mão-de-obra especializada, complementaria a transferência das tecnologias.

O bloco formado pelos países de língua portuguesa (Angola, Cabo Verde, Guiné Bissau, São Tomé e Príncipe e Moçambique, na costa oriental) mantém uma forte relação de intercâmbio comercial e de cooperação com o Brasil.

Com efeito, estes países receberam por parte da Agência Brasileira de Cooperação, órgão ligado ao Ministério das Relações Exteriores, diversos tipos de cooperação nos campos da educação, tele-saúde e construção civil, e podem representar um objetivo a ser dinamizado pelo governo na consideração estratégica de retorno do Brasil a manter sua posição reconhecida de cooperação junto a estes países.

‘Seria interessante a contribuição da Embrapa na seleção de zonas para uma cooperação com o objetivo de transferir-se o know how para a produção nesses países’

Tendo em vista o vertiginoso desenvolvimento atingido pela agricultura brasileira, seria interessante a contribuição da Embrapa na seleção de zonas para uma cooperação com o objetivo de transferir-se o know how para a produção nesses países de soja, milho, arroz e outras culturas.

Esta pesquisa abriria, na sequência, oportunidade ao empresariado agrícola brasileiro, em associação aos locais, para produzir grãos na região com o objetivo de suprimento local e exportação para os países africanos.

A China está cada vez mais presente na região, muito baseada na capacidade de financiamento, e tem objetivos no médio prazo de diversificar suas origens de importação de grãos, e neste sentido a produção na África é uma hipótese a ser considerada.

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No campo do algodão, o Brasil teve papel importante através da cooperação no Programa  Cotton 4, da Agência Brasileira de Cooperação, com os países originários da colonização francesa (Benin, Burkina Faso, Chade e Mali). Igualmente pode representar uma oportunidade aos agricultores brasileiros em produzir localmente.

Outro ponto importante de possibilidade de cooperação na área agrícola é o Senar (Serviço de Aprendizagem Rural), organismo ligado à Confederação Nacional da Agricultura, que tem vocação ligada ao desenvolvimento tecnológico do pequeno e médio produtor rural que pode representar um importante projeto de cooperação com os congêneres do continente africano.

A nova fronteira agrícola africana trata-se de um desafio futuro que deve ser analisado pelo Brasil envolvendo os organismos de cooperação, de pesquisa e por parte do empresariado, como forma de estratégia de permanência na região.


*Mario Mugnaini Jr. é colunista da Interesse Nacional. Engenheiro industrial químico e empresário, foi vice-presidente da Fiesp/Ciesp entre 1998 e 2002, secretário executivo da Câmara de Comércio Exterior Camex MDIC entre 2003 e 2007 e presidente da Investe SP, Agência Paulista de Investimentos e Competitividade de 2009 a 2011.


Artigos e comentários de autores convidados não refletem, necessariamente, a opinião da revista Interesse Nacional

Mario Mugnaini Jr. é colunista da Interesse Nacional, engenheiro industrial químico e empresário, foi vice-presidente da Fiesp/Ciesp entre 1998 e 2002, secretário executivo da Câmara de Comércio Exterior Camex MDIC entre 2003 e 2007 e presidente da Investe SP, Agência Paulista de Investimentos e Competitividade de 2009 a 2011.

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