O Brasil, a diplomacia e a questão israelo-palestina – Um equilíbrio delicado
Resposta do país à situação entre Israel e Palestina deve ser medida, cautelosa e estrategicamente pensada, mantendo a diplomacia ativa em vez de escolher o isolamento
A recente carta enviada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva por um grupo diversificado de personalidades brasileiras, que inclui artistas, intelectuais e juristas, ressalta um apelo fervoroso para que o Brasil rompa suas relações diplomáticas com Israel em resposta às contínuas hostilidades na Faixa de Gaza. Este documento, embora movido por uma indignação justificável diante da violência observada, traz à tona complexidades que vão além do apelo emocional e entram no âmbito da estratégia diplomática e política internacional.
A posição do Brasil como um potencial mediador de paz é uma faceta notável da sua política externa, construída sobre o princípio da não intervenção e do diálogo. O Brasil tem sido voz ativa no cenário global, propondo soluções pacíficas e defendendo o respeito aos direitos humanos e à soberania das nações. A liderança brasileira nas Nações Unidas e em outros fóruns internacionais tem sido pautada pelo esforço em promover o diálogo e o entendimento mútuo.
Romper relações com Israel, como sugerido pela carta, poderia, paradoxalmente, diminuir a influência do Brasil em promover qualquer solução pacífica ou diálogo entre as partes envolvidas. O papel de mediador, que é intrinsecamente baseado na capacidade de dialogar com todas as partes, seria substancialmente prejudicado. Isso não apenas reduziria a capacidade do Brasil de atuar como um agente de paz, mas também poderia isolar o país no espectro diplomático onde os debates sobre essas questões são intensos e as posições frequentemente polarizadas.
Além disso, a diplomacia brasileira tem historicamente utilizado sua posição neutra para ajudar em mediações complexas e ajudar na formulação de acordos que respeitem as perspectivas de diferentes atores internacionais. A neutralidade e a capacidade de manter canais de comunicação abertos com ambos os lados de um conflito são ativos diplomáticos importantes que permitem ao Brasil desempenhar um papel construtivo em conflitos internacionais.
A proposta de ruptura também não leva em conta as consequências econômicas e políticas que tal medida acarretaria. Israel é um parceiro comercial significativo e um campo avançado em tecnologia e inovação, áreas nas quais o Brasil tem buscado fortalecer laços para impulsionar seu próprio desenvolvimento tecnológico e econômico.
Portanto, ao invés de romper relações, o Brasil deveria intensificar seus esforços diplomáticos, utilizando sua posição respeitada e independente para facilitar um diálogo mais efetivo. Isso incluiria trabalhar junto a outras nações que compartilham uma visão de solução pacífica e de dois Estados, promovendo iniciativas que possam aliviar o sofrimento humano e encaminhar as partes para uma resolução pacífica.
Em suma, a resposta do Brasil à situação entre Israel e Palestina deve ser medida, cautelosa e estrategicamente pensada, mantendo a diplomacia ativa em vez de escolher o isolamento. A capacidade do Brasil de ajudar a moldar um cenário pacífico para o conflito Israelo-Palestino não reside na severidade de suas ações, mas na prudência e na perspicácia de sua abordagem diplomática.
Karina Stange Calandrin é colunista da Interesse Nacional, professora de relações internacionais no Ibmec-SP e na Uniso, pesquisadora de pós-doutorado do Instituto de Relações Internacionais da USP e doutora em relações internacionais pelo PPGRI San Tiago Dantas (Unesp, Unicamp e PUC-SP).
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