16 julho 2024

Política externa é o principal tema da semana na imprensa estrangeira, superando corrupção de Bolsonaro

Em período de baixa visibilidade no exterior, jornais internacionais trataram da visita de Milei ao Brasil, da ascensão de radicalismos, da viagem de Lula à Bolívia e da importância da questão da Venezuela

Por Daniel Buarque e Fabiana Mariutti*

iii-Brasil – de 8 a 14/7 de 2024

Visibilidade: 33 reportagens em 7 veículos analisados

Classificação das notícias:

70% Neutras

27% Negativas

3% Positivas

Em uma semana de grandes revelações e denúncias de corrupção contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, além de novos dados sobre problemas ambientais no país, a maior parte do noticiário sobre o Brasil no exterior tratou sobre a política externa. A visita de Javier Milei, a ascensão de movimentos radicais, a viagem de Lula à Bolívia e a importância da questão da Venezuela para o Brasil ganharam destaque na imprensa estrangeira no período.

No total, foram registrados na segunda semana de julho 33 textos com menção ao Brasil nos sete veículos analisados, volume muito abaixo da média semanal do iii-Brasil. A maior parte dos textos sobre o país teve tom neutro, atingindo 70% da cobertura sobre o país. As menções negativas foram 27% e as positivas, apenas 3%. 

Entenda como funciona o iii-Brasil

Quase um quinto das menções ao Brasil no período trataram de temas relacionados à visita do presidente argentino ao país para participar de um evento de extrema-direita. O tema já havia sido destaque na semana anterior, e dessa vez ganhou uma roupagem mais analítica.

Reportagem do português Público resumiu os problemas relacionados à viagem. “Milei foi ao Brasil atacar o socialismo depois de chamar ‘corrupto’ a Lula. O Presidente da Argentina faltou à cúpula do Mercosul no Paraguai, onde se encontraria com o congénere brasileiro. Preferiu ir a Santa Catarina assistir a um comício de Bolsonaro.”

O jornal argentino Clarín chamou a troca de insultos entre os presidentes do Brasil e da Argentina de sombria e infantil, e disse que elas se baseiam na procura de ganhos políticos. “O pugilismo argumentativo que provocou as referidas fricções ou fricções palacianas nunca introduziu argumentos de uma entidade política genuína e respeitável que justificasse a dolorosa degradação, assumimos circunstancial, das relações bilaterais. Menos para dar vazão a um nível de hostilidade e arrogância incompatível com o diálogo entre nações democráticas”, diz.

O jornal também publicou um artigo defendendo que mesmo com a tensão, a relação entre os dois países continua sendo importante. “A relação com o Brasil foi, é e será uma questão prioritária para a Argentina e não apenas porque a geografia assim o dita. Ao longo da sua história, os conflitos foram geralmente encapsulados primeiro e resolvidos depois. Os setores de diálogo nos dois países acabaram predominando sobre aqueles que incentivavam o confronto”, diz.

Além da questão da Argentina, o espanhol El País aproveitou a Cúpula do Mercosul e viagens do presidente Lula para tratar das relações do Brasil com outros dois vizinhos na região. “Lula da Silva visita a Bolívia e leva oxigênio para Luis Arce. O presidente brasileiro rejeita a hipótese do ‘autogolpe’ de Estado agitado pela oposição boliviana e por Evo Morales”, diz o jornal.

Em outra reportagem, avalia a posição do Brasil diante das próximas eleições na Venezuela, que chama de “o grande desafio político de Lula”. “Se no passado Lula ou Dilma Rousseff fizeram campanha para Maduro, o que fará o presidente brasileiro no seu terceiro mandato, no qual se comprometeu a acabar com as explosões ditatoriais do bolsonarismo?”

Apesar de a política externa ter tido mais atenção, jornais estrangeiros também trataram dos escândalos envolvendo as denúncias de corrupção contra Bolsonaro. No francês Le Monde, uma reportagem diz que “No Brasil, Jair Bolsonaro é acusado de tentar roubar joias no valor de mais de US$ 1 milhão”. A imprensa internacional também tratou de outros casos relacionados ao ex-presidente. “Agência de espionagem do Brasil é acusada de mirar ilegalmente em inimigos de Bolsonaro”, diz o britânico The Guardian

E temas ambientais também receberam atenção no exterior, com reportagens sobre incêndios na Amazônia no New York Times e no Pantanal no Guardian.

Retrospectiva 

Desde o início de abril de 2022, o iii-Brasil coletou e analisou em média 57 reportagens por semana com menções de destaque ao país nos sete veículos de imprensa analisados. 

Ao longo do levantamento, o iii-Brasil registrou em média 52% de reportagens de tom neutro, 29% de menções com tom negativo e 19% de textos positivos sobre o país. 


*Daniel Buarque é pesquisador no pós-doutorado do Instituto de Relações Internacionais da USP (ISI/USP), doutor em relações internacionais pelo programa de PhD conjunto do King’s College London (KCL) e do IRI/USP. Jornalista, tem mestrado em Brazil in Global Perspective pelo KCL e é autor de livros como Brazil’s international status and recognition as an emerging power: inconsistencies and complexities (Palgrave Macmillan), Brazil, um país do presente (Alameda Editorial) e O Brazil é um país sério? (Pioneira). É editor-executivo do portal Interesse Nacional.

Fabiana Mariutti atua como pesquisadora, professora universitária e consultora; obteve pós-doutorado, doutorado e mestrado em Administração e bacharel em Comunicação Social. Estuda a imagem, reputação e marca Brasil desde 2010. Interesse nas áreas de Place Branding e Public Diplomacy. Nomeada Place Brand Expert pelo The Place Brand Observer, na Suíça. Autora do recente artigo: “When place brand and place logo matches: VRIO applied to Place Branding”, de dois livros e sete capítulos de livros. 

O Índice de Interesse Internacional (iii-Brasil) é uma análise da imagem do país realizada a partir de um levantamento sistemático de dados sobre notícias que mencionam o Brasil a cada semana em sete publicações internacionais, selecionadas como representativas da imprensa internacional por serem reconhecidas internacionalmente como “newspapers of record”. São elas: The Guardian (Reino Unido), The New York Times (Estados Unidos), El País (Espanha), Le Monde (França), Clarín (Argentina), Público (Portugal) e China Daily (China).

Artigos e comentários de autores convidados não refletem, necessariamente, a opinião da revista Interesse Nacional

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