26 janeiro 2024

Rubens Barbosa: O governo Lula e o desafio da integração regional

O Brasil precisa assumir a liderança do processo de integração regional para atender seu próprio interesse, e para isso a ministra Simone Tebet assumiu essa bandeira e prepara roadshow de obras. Para embaixador, o Itamaraty deveria retomar seu papel de coordenador das ações externas, em especial na América do Sul

O Brasil precisa assumir a liderança do processo de integração regional para atender seu próprio interesse, e para isso a ministra Simone Tebet assumiu essa bandeira e prepara road show de obras. Para embaixador, o Itamaraty deveria retomar seu papel de coordenador das ações externas, em especial na América do Sul

A ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, durante a conferência “Sob o Olhar Delas” (Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil)

Por Rubens Barbosa*

A ministra Simone Tebet assume a bandeira da integração sul-americana e prepara road show de obras, segundo se informa. A ministra do Planejamento vai liderar neste ano a ação prática da integração regional, uma das prioridades da política exterior do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. 

Sob sua coordenação foi feita a articulação com outros ministérios, em especial com o Ministério da Fazenda e o ministro Fernando Haddad, em tempos de ajuste fiscal, para tirar do papel as obras do PAC Integração, com o objetivo de criar novas rotas entre o Brasil e os países vizinhos para ampliar as trocas comerciais na região e abrir caminho para as exportações brasileiras para a Ásia via portos no Pacífico. Está previsto um road show de Tebet na região para a apresentação dos projetos, que deverão estar concluídos até 2026/27.

‘A integração sul-americana é uma das prioridades da política externa anunciadas pelo presidente Lula’

A integração sul-americana é uma das prioridades da política externa anunciadas pelo presidente Lula. A integração física é um dos componentes mais importantes do processo de facilitação de comércio regional e deve ser muito bem recebido e apoiado.

Falta agora, no contexto da política externa, o Itamaraty anunciar suas prioridades na região para complementar a iniciativa do Ministério do Planejamento. O presidente Lula conversou, nesta semana, com o ministro Mauro Vieira para definir as prioridades em 2024.

‘Depois de encontros entre líderes não houve nenhum desenvolvimento público de políticas ou de iniciativas voltadas para a integração regional’

Depois dos encontros entre os presidentes sul-americanos e da reunião de cúpula da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica não houve nenhum desenvolvimento público de políticas ou de iniciativas voltadas para a integração regional. 

Não faltam questões que mereceriam uma ação coletiva regional. Meio ambiente, preservação da Floresta Amazônica, comércio exterior (área de livre comércio), criação de cadeias regionais de valor agregado, violência e combate ao crime organizado, fortalecimento do controle das regiões de fronteira, refugiados, a questão entre a Venezuela e a Guiana, o corredor ferroviário bi-oceânico, a integração entre as hidrovias no arco norte e a criação de uma autoridade internacional na Hidrovia Paraná-Paraguai, são algumas das áreas, além da integração física, em que o Brasil poderia liderar ações regionais sob a coordenação do Itamaraty.

Há 30 anos foi criada a área de integração regional no Itamaraty. Por algum tempo, as negociações comerciais entre os países da região, com o Mercosul e entre o Mercosul e a União Europeia e outros países concentraram as atenções da área diplomática. Os tempos mudaram e as prioridades regionais também se transformaram tornando urgente uma reavaliação das prioridades regionais.

O Brasil precisa assumir a liderança do processo de integração regional para atender seu próprio interesse. O Itamaraty deveria retomar seu papel de coordenador das ações externas, em especial na América do Sul. 


*Rubens Barbosa é diplomata, foi embaixador do Brasil em Londres e em Washington, DC. É presidente do Instituto Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice) e coordenador editorial da Interesse Nacional. Mestre pela London School of Economics and Political Science, escreve regularmente no Estado de São Paulo e no Interesse Nacional e é autor de livros como Panorama visto de Londres, Integração econômica da América Latina, O dissenso de Washington e Diplomacia ambiental

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Presidente e fundador do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (IRICE). É presidente do Conselho Superior de Comércio Exterior da FIESP, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Trigo (Abitrigo), presidente do Centro de Defesa e Segurança Nacional (Cedesen) e fundador da Revista Interesse Nacional. Foi embaixador do Brasil em Londres (1994–99) e em Washington (1999–04). É autor de Dissenso de Washington (Agir), Panorama Visto de Londres (Aduaneiras), América Latina em Perspectiva (Aduaneiras) e O Brasil voltou? (Pioneira), entre outros.

Artigos e comentários de autores convidados não refletem, necessariamente, a opinião da revista Interesse Nacional

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