11 abril 2024

Brasil superestima sua própria relevância na política global

O status internacional do país a partir da perspectiva das grandes potências é analisado em entrevista ao canal Um Brasil. Livro aborda a argumento de que o país não alcançou o reconhecimento que gostaria de ter nas grandes questões internacionais

Por Daniel Buarque*

Ao longo de sua história, o Brasil tem buscado uma posição de influência global, aspirando a ser um protagonista nas decisões políticas internacionais. No entanto, apesar de seus esforços diplomáticos para obter destaque nos organismos internacionais, a percepção dos representantes das grandes potências é de que o país é, no máximo, uma potência média, sem capacidade de ir além desse status.

Este é o ponto central de entrevista ao Canal Um Brasil, em que foram discutidos os argumentos apresentados no livro Brazil’s International Status and Recognition as an Emerging Power: Inconsistencies and Complexities, que acaba de ser publicado pela editora Palgrave Macmillan.

Baseada na pesquisa de doutorado realizada no King’s College London (em parceria com a USP), a obra ressalta que existe uma discrepância entre a posição que o Brasil acredita merecer nas relações internacionais e a realidade percebida pelas principais potências. Um exemplo disso foi a tentativa de mediação no acordo nuclear entre o Irã e o Ocidente, que não obteve respaldo significativo do Conselho de Segurança da ONU.

Na entrevista ao Canal Um Brasil, foi traçado um panorama da persistente ambição nacional de conquistar um assento nas mesas de decisão internacionais. Essa aspiração tem sido uma constante ao longo dos anos, impulsionada pela mentalidade de grandeza no Itamaraty e pela recusa em aceitar um papel secundário.

Entretanto, o cenário atual das relações internacionais não favorece mais a multipolaridade, como ocorreu no início do século, com o surgimento de novas potências. O mundo contemporâneo valoriza principalmente o poder militar e econômico, e o Brasil só alcançará o status almejado através de avanços significativos, especialmente na economia, na liderança regional na América Latina e na questão ambiental. 

A construção da imagem internacional do Brasil não pode ser feita de forma artificial. É fundamental que o país promova seu próprio desenvolvimento, estabilize suas finanças, mantenha uma política estável e evite turbulências políticas recorrentes. Somente assim será possível ganhar reconhecimento e peso nas questões internacionais.


*Daniel Buarque é colunista e editor-executivo do portal Interesse Nacional, pesquisador no pós-doutorado do Instituto de Relações Internacionais da USP (IRI/USP), doutor em relações internacionais pelo programa de PhD conjunto do King’s College London (KCL) e do IRI/USP. Jornalista, tem mestrado em Brazil in Global Perspective pelo KCL e é autor de livros como Brazil’s international status and recognition as an emerging power: inconsistencies and complexities (Palgrave Macmillan), Brazil, um país do presente (Alameda Editorial) e O Brazil é um país sério? (Pioneira). É um dos organizadores do livro O Brasil voltou? O interesse nacional e o lugar do país no mundo (Pioneira, 2024).

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Artigos e comentários de autores convidados não refletem, necessariamente, a opinião da revista Interesse Nacional

Editor-executivo do portal Interesse Nacional. Jornalista e doutor em Relações Internacionais pelo programa de PhD conjunto do King’s College London (KCL) e do IRI/USP. Mestre pelo KCL e autor dos livros Brazil’s international status and recognition as an emerging power: inconsistencies and complexities (Palgrave Macmillan), Brazil, um país do presente (Alameda Editorial), O Brazil é um país sério? (Pioneira) e O Brasil voltou? (Pioneira)

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