iii-Brasil: Visita de Lula à China impulsiona de forma positiva a imagem do Brasil no exterior
Encontro dos líderes brasileiro e chinês ampliou a visibilidade brasileira em 30% na segunda semana de abril em relação à média. A maior cobertura sobre a viagem foi feita pelo China Daily, que publicou um ‘recorde’ de 33 matérias com menções de destaque sobre o Brasil, sendo dois terços delas com tom favorável ao país
Encontro dos líderes brasileiro e chinês ampliou a visibilidade brasileira em 30% na segunda semana de abril em relação à média. A maior cobertura sobre a viagem foi feita pelo China Daily, que publicou um ‘recorde’ de 33 matérias com menções de destaque sobre o Brasil, sendo dois terços delas com tom favorável ao país
Por Daniel Buarque e Fabiana Mariutti*
iii-Brasil – de 10 a 16 de abril de 2023
Visibilidade: 91 reportagens em 7 veículos
Classificação das notícias:
43% Neutras
13% Negativas
44% Positivas
A visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ampliou a visibilidade do Brasil na mídia internacional e impulsionou positivamente a imagem do país no exterior. Apesar de a imprensa americana ter adotado um tom mais crítico sobre a viagem, conforme relatou a Folha de S.Paulo a avaliação da cobertura de jornais de diferentes países mostra que o tom o usado na abordagem foi predominantemente positivo – em grande parte graças a uma cobertura ampla e favorável ao país na imprensa chinesa.
No total, foram registrados na segunda semana de abril 91 textos com menção ao Brasil nos sete veículos analisados, volume 30% acima da média semanal do Índice de Interesse Internacional (iii-Brasil). A maior proporção dos textos teve tom positivo, atingindo 44% da cobertura sobre o país. As reportagens de tom neutro foram 43% e as negativas foram apenas 13%.
A maior cobertura da viagem, naturalmente, foi publicada pelo site de notícias chinês em língua inglesa China Daily. O veículo destacava em sua capa até a manhã de segunda-feira uma foto de Lula e Xi durante o encontro, alegando que a visita era uma “vitória para a parceria” entre os dois países.
Apesar de o veículo chinês tradicionalmente adotar um dos tons mais neutros em suas menções ao Brasil, ao tratar da visita de Lula o tom foi majoritariamente positivo, sempre ressaltando a importância das relações estratégicas entre os dois países, como a “prioridade” e a “importância” com que a China vê o Brasil. No total, o China Daily publicou 33 reportagens sobre o Brasil, sendo 23 delas positivas. Além disso, muitas outras reportagens sobre a visita foram publicadas após o domingo dia 16, e portanto vão ser contabilizadas apenas no iii-Brasil da semana de 17 a 23 de abril.
Segundo uma reportagem do China Daily, a visita vai promover a cooperação estratégica entre os dois países. “O fato de o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva estar acompanhado de uma comitiva muito grande, composta por 39 membros do Congresso Nacional, incluindo o ministro das Relações Exteriores, ministro da Fazenda, presidente do Senado Federal, alguns governadores de Estado, dezenas de autoridades federais e locais e centenas de empresários mostra o alto valor que o Brasil atribui às suas relações com a China e as grandes expectativas que Lula tem das relações China-Brasil.”
O Brasil também foi destacado de forma positiva na cobertura que o jornal chinês faz das disputas entre o país e os Estados Unidos, com menção favorável ao discurso de Lula sobre o uso de outras moedas, que não o dólar, nas transações internacionais. “Apesar das dificuldades que o mundo enfrenta e dos obstáculos que os EUA estão criando, Brasil e China continuarão no caminho de superar distâncias e culturas“
Em editorial, entretanto, o jornal avalia que o Brasil se beneficiaria mais de uma posição autônoma diante das disputas internacionais: “A visita de Lula à China proporcionará ao país uma experiência em primeira mão da diferença que manter sua autonomia estratégica pode fazer para uma economia de mercado emergente de seu tamanho, com seus recursos e potencial. Não há razão para que a porta da modernização esteja fechada e trancada no Brasil”.
A cobertura do jornal francês Le Monde incluiu três reportagens sobre a viagem de Lula à China e teve um tom ambíguo, oscilando entre o positivo e a neutralidade. Pelo lado positivo, o jornal destaca a viagem como uma retomada do protagonismo brasileiro no cenário internacional e a importância que os dois países dão ao fortalecimento das suas relações.
“Simbolicamente, Lula fez seu primeiro discurso na China durante a cerimônia de posse de Dilma Rousseff à frente do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), o banco dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul ), esse grupo de países acredita que sua influência no cenário internacional não corresponde ao seu peso econômico, agora lado a lado com os países do G7”, diz
O jornal americano The New York Times fez uma ampla cobertura da visita de Lula à China. Em uma reportagem longa e bem embasada, mas com tom mais neutro, apresentou de forma factual e analítica o contexto do encontro diplomático entre Lula e Xi Jinping e os interesses dos dois países, mas sem uma crítica direta ao Brasil. Uma outra reportagem, entretanto, teve um tom mais negativo ao explicar que o Brasil poderia ajudar a Ucrânia com oferta de munições, mas que se recusa e diz que não quer participar do conflito.
A viagem também foi abordada de forma favorável no jornal português Público, que destacou o interesse dos dois países em “construir uma nova geopolítica”. Assim como no espanhol El País, que falou na possibilidade de as relações entre China e Brasil irem além das questões comerciais; outro texto reforça qua a China recebeu o presidente brasileiro depois de modificar sua drástica política de fechamento por causa da pandemia e dentro de um verdadeiro carrossel de reuniões de cúpula que colocam Pequim no centro do cenário global e põem em cena o novo caráter multipolar do mundo. E no argentino Clarín, que apontou que o encontro entre os dois líderes “abrirá novas oportunidades para o Brasil”.
Retrospectiva
Desde o início de abril de 2022, o iii-Brasil coletou e analisou em média 70 reportagens por semana com menções de destaque ao país nos sete veículos de imprensa analisados.
Ao longo do levantamento, o iii-Brasil registrou em média 49% de reportagens de tom neutro, 34% de menções com tom negativo e 17% de textos positivos sobre o país.
*Daniel Buarque é editor-executivo do Interesse Nacional, pesquisador do pós-doutorado do IRI-USP, doutor em relações internacionais pelo programa de PhD conjunto do King’s College London (KCL) e do IRI/USP. É jornalista, tem mestrado em Brazil in Global Perspective pelo KCL e é autor dos livros “Brazil, um país do presente” (Alameda) e “O Brazil É um País Sério?” (Pioneira).
Fabiana Mariutti atua como pesquisadora, professora universitária e consultora; obteve pós-doutorado, doutorado e mestrado em Administração e bacharel em Comunicação Social. Estuda a imagem, reputação e marca Brasil desde 2010. Autora dos livros: “Country Reputation: The Case of Brazil in the United Kingdom: Four Stakeholders’ Perspectives on Brazil’s Brand Image” (2017) e “Country Brand Identity: Communication of the Brazil Brand in the United States of America” (2013).
O Índice de Interesse Internacional (iii-Brasil) é uma análise da imagem do país realizada a partir de um levantamento sistemático de dados sobre notícias que mencionam o Brasil a cada semana em sete publicações internacionais, selecionadas como representativas da imprensa internacional por serem reconhecidas internacionalmente como “newspapers of record”. São elas: The Guardian (Reino Unido), The New York Times (Estados Unidos), El País (Espanha), Le Monde (França), Clarín (Argentina), Público (Portugal) e China Daily (China).
Artigos e comentários de autores convidados não refletem, necessariamente, a opinião da revista Interesse Nacional