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ANO 11 | JAN-MAR 2019

Edição 44

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Os artigos desta edição versam sobre as perspectivas para a esquerda e a direita, no País, após as eleições de 2018. Pela primeira vez, os brasileiros passam a conviver com um governo declaradamente de direita, com todas as implicações dessa tendência nos campos econômico, social, político, educacional e cultural, nas áreas de política externa e de meio ambiente, entre outras.

Ainda é cedo para se detectar os resultados internos e externos da aplicação do novo pensamento, liberal na economia e conservador nos costumes. Por enquanto, resta-nos entender essa nova matriz ideológica.

O recém-eleito deputado federal pelo PSL, Luiz Philippe de Orleans e Bragança, diz: “A direita que surge carrega consigo os novos discursos dos conservadores e liberais, que são opostos integralmente à realidade progressista existente. Ambos prezam uma economia de mercado como força motriz do desenvolvimento, pouca intervenção do Estado em aspectos sociais e um governo local, não global, descentralizado, e próximo à realidade das famílias e das comunidades. Não há nada na organização política do Brasil de hoje em linha com essa propositura”.

O economista Gustavo Franco, um dos criadores do Plano Real e filiado ao partido Novo, explica o que chama de “Primavera Liberal”, título do artigo que abre a edição. “Em tempos recentes, o liberalismo era insistentemente dado como morto, especialmente durante o apogeu da era petista, mas, nesta eleição, alguma coisa mudou. Siglas como MBL, VPR, RAPS e Renova, cuja origem tinha que ver com as mobilizações associadas ao impeachment e o anseio por uma ‘nova política’, adquiriram musculatura ao eleger filiados seus para o Legislativo, através de diversas agremiações partidárias, incluindo o Novo, Rede, Democratas, PPS, entre outros. Muitos dos eleitos são assumidamente comprometidos com pautas liberais na economia, coisa que não se via desde que Roberto Campos deixou o parlamento no começo de 1994”, escreve Franco.

O cientista político Denis Lerrer Rosenfield destaca que “valores conservadores e liberais passaram a ser representados eleitoralmente, expondo um cenário diante do qual tanto os tucanos quanto os petistas ficaram desorientados. A novidade, segundo o autor do artigo “Conservadores e Liberais”, é que “a direita mostrou uma diversidade própria, seja em relação aos costumes e aos valores morais e religiosos, seja em relação à economia”. Ao lutar contra a criminalidade generalizada e pelo direito à autodefesa e à segurança pública, Bolsonaro resgatou valores e princípios que fazem parte, conforme ensinava Hobbes, da própria constituição do Estado, diz o articulista.

O embaixador Rubens Barbosa, editor responsável desta Revista, faz uma análise dos desafios internos (econômicos, políticos e sociais) e externos (como buscar um lugar adequado para o Brasil, uma das dez maiores economias do mundo). “O governo que se iniciou em 1o de janeiro enfrentará desafios internos e externos e não terá muito tempo para tomar medidas que permitam ao Brasil voltar a crescer, aumentar a geração de emprego e reduzir as desigualdades regionais e individuais. Não terá muito tempo igualmente para, na política externa, reinserir o Brasil nos fluxos dinâmicos da economia e do comércio exterior e para fortalecer a voz do Brasil no cenário internacional”.

Artigos de André Singer, Fernando Rugitsky, Lincoln Secco e Renato Janine Ribeiro refletem sobre as perspectivas da esquerda e da formação de uma frente democrática, como resposta à eleição do direitista Jair Bolsonaro.

Para Singer e Rugitsky, respectivamente professores de Ciência Política e de Economia da USP, apesar da urgência da constituição de uma frente democrática, há dois obstáculos a serem enfrentados: “o primeiro relaciona-se à dinâmica das organizações partidárias, que dificulta até mesmo a unidade entre setores da esquerda com maior convergência programática. O segundo refere-se a divergências profundas sobre o lugar do Estado na promoção do crescimento econômico, que inviabilizam a ação conjunta de setores ‘democráticos’ vinculados a diferentes posições do espectro político”.

Os autores concluem: “a extrema-direita neoliberal brasileira, em contraste com o populismo de direita que está em alta no mundo, abre um espaço para a resistência democrática aliar defesa da democracia com recusa do neoliberalismo. Uma conjunção, aliás, que parece ser a condição para formação da ampla frente social, construída desde baixo”.

Renato Janine Ribeiro, professor de filosofia na USP e ex-ministro da Educação na gestão de Dilma Rousseff, diz: “quando no Brasil, pela primeira vez na história, elege-se um presidente cujo plano de governo apresenta a educação não como promessa, mas como ameaça, não como algo em que ter esperança, mas como algo de quem ele tem medo, torna-se importante lembrar que, nos tempos em que o fascismo se aprestava a triunfar, não havia nada dessa atividade otimista, promissora de um mundo melhor, que hoje enxergamos entre os jovens, entre os educadores, os sanitaristas, os defensores da inclusão social, empenhados em promover uma sociedade melhor. É nisso que a esquerda deve, mesmo sem ter o monopólio destas pautas, apostar”.

Para Lincoln Secco, professor livre docente de História Contemporânea na USP, “traçar cenários diante de tanta incerteza é muito difícil. Até um acontecimento inesperado pode mudar tudo. Mas, independentemente disso, caberá à esquerda construir políticas que apontem para rumos seguros em meio à tormenta. Reagrupar-se em torno de questões capazes de produzir amplos consensos. Parte dos dirigentes está surpreendentemente convencida dessa necessidade e realisticamente atada à diversidade de interesses que atravessam os partidos. Não haverá unidade, mas pode haver união em torno de lutas concretas”.

O diplomata de carreira Sergio Abreu e Lima Florencio é autor do artigo “O Brasil da Transição Civilizada (2003) à Eleição Polarizada (2018). O Papel das Instituições nos Avanços e Retrocessos”. Ele analisa o papel das instituições brasileiras no processo político e econômico durante os últimos 15 anos. “As instituições contribuíram para profundas transformações no país – de perfil inclusivo e extrativo – a partir da década de 1930. Durante a segunda metade da década de 1990 e os primeiros anos 2000, com o saneamento da economia e a modernização do Estado, ganharam força as instituições inclusivas. Entretanto, a partir de 2008 e, mais claramente na década de 2010, com o governo Dilma, o extrativismo prevalece em nossas instituições. O corolário dessa involução é que, hoje, o país volta a viver uma conjuntura política, econômica e social que, embora guardando semelhanças com seu início (2002), se apresenta visivelmente mais sombria”.

Confira os artigos desta edição

Edição 44

Os resultados das eleições de 2018 trouxeram muitas surpresas, gratas e ingratas, juntamente com imensos desafios de interpretação. Os especialistas debaterão ainda por muitos anos o que se passou nesse pleito que o cientista político Jairo Nicolau definiu como um exemplo de “eleição crítica: uma disputa que desestrutura o padrão de competição partidária vigente”[1], e que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso classificou como “um tsunami que varreu o sistema político brasileiro” e que “terminou o ciclo político-eleitoral iniciado depois da Constituição de 1988”.
Ideias orientam ações que tanto podem conduzir ao bem coletivo, por mais variadas que sejam as suas significações, quanto podem conduzir à anomia social e, em casos mais graves, a crises institucionais. Decisões políticas estão baseadas em ideias, por mais variáveis que essas sejam. O quadro de ideias que tínhamos até esta última eleição era amplamente dominado pela esquerda, seja em sua vertente dita socialdemocrata, seja em sua vertente petista, que remonta à experiência comunista do século XX, de cunho revolucionário, embora o PT tenha oscilado em assumir explicitamente esta tradição.
As mudanças políticas recentes nos EUA, na Europa e na América Latina têm colocado em cheque os sistemas representativos e as relações exteriores, forçando algumas revisões para o século 21. Quais fatores influenciarão o diálogo político nesse início de século? Ressalto dois fatores importantes que afetarão a base da nossa discussão política: a evolução do marxismo e a involução da democracia.
O governo que se iniciou em 1o de janeiro enfrentará desafios internos e externos e não terá muito tempo para tomar medidas que permitam ao Brasil voltar a crescer, aumentar a geração de emprego e reduzir as desigualdades regionais e individuais. Não terá muito tempo igualmente para, na política externa, reinserir o Brasil nos fluxos dinâmicos da economia e do comércio exterior e para fortalecer a voz do Brasil no cenário internacional.
As dificuldades[1] para formar uma frente democrática no Brasil merecem reflexão. O tema circula entre nós desde os protestos de 2015 e 2016, quando ficou claro que a articulação pela derrubada de Dilma Rousseff tinha ganhado as ruas e que o seu sucesso implicaria problemas para o regime implantado sob a égide da Constituição de 1988. As massivas manifestações pró-impeachment faziam prever um desfecho perigoso para a maré montante do antilulismo.
Fui convidado a falar do futuro da esquerda depois desta última eleição, mas estou convicto de que não se pode falar dela sem falar do Brasil. Os destinos dos partidos democráticos estão de tal forma entrelaçados com o futuro de nosso País que separá-los é ocioso.
Há semelhanças que não são meras coincidências. Em outubro de 2016, o candidato republicano Donald Trump ameaçou prender sua rival democrata Hillary Clinton caso fosse eleito. Em outubro de 2018, Wilson Witzel disse que daria voz de prisão a Eduardo Paes, o seu concorrente ao governo do Rio de Janeiro. E, pouco depois, Jair Bolsonaro prometeu que prenderia seu adversário Fernando Haddad e que este iria “apodrecer na cadeia”.
 O Brasil foi a economia com a segunda maior taxa de crescimento do PIB, no período 1900-1987. Mas, a partir do início da década de 1980 até 2016, a expansão econômica se situou entre as mais baixas do mundo. Também na política o padrão de avanço virtuoso e recuo vicioso é visível. Uma transição presidencial reconhecidamente civilizada no início do milênio criou as condições necessárias à passagem de uma era de estabilização e reformismo econômico (FHC) para um período de aprofundamento e ampliação de políticas sociais (Lula).

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